A grande sinfonia da criação

codbas

O som cria, o som destrói: foi o som de trompetes que derrubou as paredes de Jericó. A vida e a morte são a enésima alternação de sólido/vazio que caracteriza o palco do mundo. “Tudo no mundo é inconstante, porque tudo muda: o Tao”; foi assim que Lao Tzu iniciou seu Tao Te Ching, há 2.500 anos. Em qualquer nível, o universo é ritmo, pulsação, e seus códigos são sequências de mudança.

O que os taoistas chineses denominavam Tao, os indianos chamam Shiva, o deus que cria e destrói o mundo dançando. Shiva é a dança cósmica, mudança e ritmo, o processo de criação e também destruição. Alexandra David-Neel escreveu: “Todas as coisas […] são agregados de átomos que dançam e seus movimentos produzem sons. Quando o ritmo muda, o som também muda. […] Cada átomo canta sua canção continuamente, e esse som cria formas a cada instante.”

Cada átomo canta, e esse som cria sua forma, a tudo se torna, já que nada é excluído da matéria, que é produzida por sons e música, diferenciando-se do silêncio absoluto que é a matriz. Sendo elástica, uma onda sonora move moléculas no meio em que se propaga (ar); faz o mesmo quando o meio é água ou outra matéria, reorganizando-o em estruturas ordenadas, expressões dos ritmos do código básico. Em outras palavras, o ruído que caracteriza o som carrega em si as mensagens que podem ser traduzidas em imagens.

A alternância de tons e pausas (vazios e sólidos) são sequências numéricas – sequências como códigos de barra – que produzem música ou imagens. O segredo da vida está no código básico. Está nos números. Pitágoras considerava os números inteligências sagradas, divinas. Assim também é o sistema binário da cibernética. A alternância de sólido e vazio, um e zero, preto e branco – o universo inteiro está codificado em tal alternância, e tudo ressoa porque tudo produz som.

Dentre tantas sinfonias, o ouvido só distingue uma minúscula banda de sons audíveis. A Natureza selecionou a gama limitada de sons de que necessitamos; todos os demais se perdem. As moléculas gritam, os planetas ecoam, as estrelas colidem, mas não os escutamos. Os pulsares são só a ponta do iceberg dos concertos executados pelos corpos celestiais, a música das esferas, do universo das galáxias ao mundo microscópico das partículas.

Para onde vai o ruído ? Onde a matéria é silenciosa ? Qual é a menor unidade capaz de produzir som ? Os quarks ? As cordas (teoria das cordas) ? Tudo que possui uma identidade gera ruído, mesmo os espaços vazios (que não estão vazios). A única matéria que não produz ruído é a matéria que nunca se diferenciou, que não tem individualidade de forma e carece de identidade. O único verdadeiro silêncio é o da matéria pura, que é, como escreveu Dante, “o lugar onde o sol é silencioso” (Inferno, I:60).

página 130, sub capítulo “Tudo produz som” do livro “O Código Básico do Universo” do dr. Massimo Citro, editora Cultrix

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