Universo holográfico

“Em 1970, Karl Pribam, neurocientista da Stanford University, descobriu que os neurônios do córtex só respondem a certas bandas de frequência. Isso reforça a ideia de que o cérebro se comporta como um sistema holográfico e que a imagem visual que se forma no córtex não é 0 objeto para o qual olhamos, mas um holograma tridimensional, um artefato.

Se isso é verdade, qual o original do holograma que percebemos ? o que são os corpos físicos na realidade ? Se os objetos que vemos, ouvimos e tocamos se tornam hologramas dentro de nós, as coisas fora de nós poderiam ser padrões de interferência que estamos projetando como imagens tridimensionais.

Será que a realidade do objeto que chamamos maçã é sua aparência de maçã ou é sua configuração de interferência ? Será que a realidade subjetiva das formas é como elas são interpretadas por nossos sentidos ou ela é  uma configuração de interferência de formas incompreensíveis ?”

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A grande sinfonia da criação

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O som cria, o som destrói: foi o som de trompetes que derrubou as paredes de Jericó. A vida e a morte são a enésima alternação de sólido/vazio que caracteriza o palco do mundo. “Tudo no mundo é inconstante, porque tudo muda: o Tao”; foi assim que Lao Tzu iniciou seu Tao Te Ching, há 2.500 anos. Em qualquer nível, o universo é ritmo, pulsação, e seus códigos são sequências de mudança.

O que os taoistas chineses denominavam Tao, os indianos chamam Shiva, o deus que cria e destrói o mundo dançando. Shiva é a dança cósmica, mudança e ritmo, o processo de criação e também destruição. Alexandra David-Neel escreveu: “Todas as coisas […] são agregados de átomos que dançam e seus movimentos produzem sons. Quando o ritmo muda, o som também muda. […] Cada átomo canta sua canção continuamente, e esse som cria formas a cada instante.”

Cada átomo canta, e esse som cria sua forma, a tudo se torna, já que nada é excluído da matéria, que é produzida por sons e música, diferenciando-se do silêncio absoluto que é a matriz. Sendo elástica, uma onda sonora move moléculas no meio em que se propaga (ar); faz o mesmo quando o meio é água ou outra matéria, reorganizando-o em estruturas ordenadas, expressões dos ritmos do código básico. Em outras palavras, o ruído que caracteriza o som carrega em si as mensagens que podem ser traduzidas em imagens.

A alternância de tons e pausas (vazios e sólidos) são sequências numéricas – sequências como códigos de barra – que produzem música ou imagens. O segredo da vida está no código básico. Está nos números. Pitágoras considerava os números inteligências sagradas, divinas. Assim também é o sistema binário da cibernética. A alternância de sólido e vazio, um e zero, preto e branco – o universo inteiro está codificado em tal alternância, e tudo ressoa porque tudo produz som.

Dentre tantas sinfonias, o ouvido só distingue uma minúscula banda de sons audíveis. A Natureza selecionou a gama limitada de sons de que necessitamos; todos os demais se perdem. As moléculas gritam, os planetas ecoam, as estrelas colidem, mas não os escutamos. Os pulsares são só a ponta do iceberg dos concertos executados pelos corpos celestiais, a música das esferas, do universo das galáxias ao mundo microscópico das partículas.

Para onde vai o ruído ? Onde a matéria é silenciosa ? Qual é a menor unidade capaz de produzir som ? Os quarks ? As cordas (teoria das cordas) ? Tudo que possui uma identidade gera ruído, mesmo os espaços vazios (que não estão vazios). A única matéria que não produz ruído é a matéria que nunca se diferenciou, que não tem individualidade de forma e carece de identidade. O único verdadeiro silêncio é o da matéria pura, que é, como escreveu Dante, “o lugar onde o sol é silencioso” (Inferno, I:60).

página 130, sub capítulo “Tudo produz som” do livro “O Código Básico do Universo” do dr. Massimo Citro, editora Cultrix

A desigualdade segundo Piketty

capital XXIPor que um denso tratado de economia de um jovem professor francês se tornou o best-seller mais discutido deste ano.

O mundo é desigual. Uma parte dessa desigualdade é boa. É o que dá cor à vida e nos faz únicos e diferentes. Mas, outra parte de desigualdade é ruim, quando representa um passado que impede o futuro de acontecer e nega oportunidades iguais às pessoas.

Thomas Piketty, professor da Paris School of Economics, publicou este ano um “tour de force”, O Capital no Século XXI, sobre o papel da desigualdade de renda e de riqueza na configuração da estrutura social em que vivemos.

O método usado por Piketty é simples: primeiro, trata do marco teórico (no caso, centrado em duas leis fundamentais do capitalismo, que relacionam a desigualdade ao crescimento econômico e ao retorno do capital) e depois a busca por evidências (principalmente na história econômica da Europa e EUA, desde o século 18) que confirmem suas hipóteses. Nessa trajetória, ele procura mostrar que a desigualdade motivada pela reprodução da riqueza pela riqueza (principalmente do capital herdado que busca valorização na esfera financeira) está na origem dos problemas econômicos e políticos contemporâneos.

No mundo, os 10% no topo da distribuição da renda do trabalho recebem normalmente 25% a 30% da renda total, enquanto os 10% mais ricos na distribuição de riqueza têm sempre mais do que 50% do total. Apenas números ? Não, segundo ele, pois estamos falando de uma luta intergeneracional que se sobrepõe à luta de classes e que pode afetar o próprio futuro do capitalismo.

Em 1987, havia 140 bilionários no mundo, que juntos tinham US$ 300 bilhões de riqueza. Em 2013, tínhamos já 1,4 mil bilionários, que possuem US$ 5,4 trilhões, quase quadruplicando sua participação na riqueza privada do mundo no período.

Durante todo o livro, Piketty mostra certa incredulidade em como “os vencedores” da hierarquia social conseguem convencer “os perdedores”. Ele argumenta como a justificativa de que altos salários podem ser explicados por diferenciais de produtividade não possui embasamento empírico e chega perto, segundo ele, de “uma construção puramente ideológica”. Ele questiona ainda o significado de “classe média” e de como o poder econômico se reproduz socialmente.

Assim, se ele estiver certo, somos dominados – sim diz ele – por 0.1% dos mais ricos no mundo que nos fazem acreditar, com base nas migalhas que nos deixam – sim, “migalhas”, ele usa essa palavra – que estamos muito bem como classe média e como pobres. Para ele a riqueza é tão concentrada que nós não temos nem ideia de como ela se reproduz.

Podemos, assim, viver “felizes”, em um mundo desigual, admirando aqueles que nos oprimem.

resumo do artigo de ZH – 10/08/2014 de Flavio Comim, professor da UFRGS